terça-feira, 20 de março de 2007

A sombra no tapete

Continuo a pensar na sombra
que te acompanha quando a luz
projecta no chão a imagem que perdes
ao sair do espelho. E sei que há um ritmo
branco neste espaço que deixas entre
a cadeira e a porta, para que
as minhas palavras o encham
com a tua ausência.

Às vezes, é como se um sol
viesse ao teu encontro, para te roubar
à noite, e me espalhasse pela memória
os teus cabelos no movimento de nuvem
que se perde no horizonte do verso,
de onde se soltam as aves
e a espuma perfeita de um corpo
antigo.

Outras vezes, o olhar que vem
ao meu encontro cruza-se com o teu, como se
o amor fosse o resultado
desta soma de diferenças, e a razão
da primavera se encontrasse na linha
que os teus passos desenham,
num eco de voz que a manhã suspende,
no peso adormecido de uma leveza de ombros.

E cubro com a seda do silêncio
o vidro da tua boca.

Nuno Júdice

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