segunda-feira, 19 de março de 2007

Poema Cinza

o corpo escreve-se com vime. e fica, depois
do instante, a arborizar o vento.

talvez a água
antes do eclipse.

abre-se como um mapa
por onde os riachos empardecem.

vincos, nós, odor a cisco sob a canícula.
ou espuma também?

toda a terra é memória, lugar
à margem,
horizonte oscilando no tempo
enquanto os pássaros
revoam.

enreda-se na ferida das cidades
e talha as casas, já
o mundo arde
num navio de cores.
vara, por último. negrilho, por exemplo.
bordão
encurvando
para a cinza.

em redor, outras tardes. tardes ao pé da porta,
quem sabe.
tardes, moscas, pedras.
um jeito de harpa
a quebrar-se.
e nenhuma música mais.

música nenhuma, não.

José Manuel Mendes

1 comentário:

Antonio Damásio disse...

Parabéns pelo belo poema. Fiquei extasiado. Abr.